Foi preciso muita afronta para que nós (jornalistas) tirássemos essa pauta da gaveta. Os gritos vieram da página do Jornal Nacional, diante de uma foto da Maria Júlia Coutinho, a Maju. Os comentários abraçavam o racismo em comentários como “só conseguiu emprego no JN por causa das cotas, preta macaca” e “não tenho TV colorida para ficar olhando essa preta, não”. A jornalista também recebeu comentários machistas: vagabunda.
Claro que a avalanche de comentários gerou revolta e apoio à jornalista, não só por parte dos internautas, como também pelos colegas de redação.
Por que isso aconteceu?
A imagem da mulher negra na nossa sociedade sofre confrontos históricos, coisa que não foi e não está sendo resolvida. De acordo com Walkyria Chagas, pós-graduada em Direito do Estado Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça pela Universidade Federal da Bahia, o período escravocrata deixou como herança o pensamento popular, em que, as mulheres negras só servem para trabalhar como domésticas ou exibindo seus corpos.
A posição social do negro não se baseia apenas na possibilidade de aquisição ou consumo de bens. Ainda há uma grande dificuldade da sociedade brasileira em assumir a questão racial como um problema que necessita ser enfrentado. Enquanto esse processo de enfrentamento não ocorrer, as desigualdades sociais baseadas na discriminação racial continuarão, e, com tendência ao acirramento, ainda mais quando se trata de igualdade de oportunidades em todos os aspectos da sociedade.
AFRONTA
O Afronta é um projeto de três mulheres negras, estudantes, militantes, e sonhadoras com a ideia de contar as histórias com ilustrações de outras guerreiras negras.
No site do projeto, elas contam que o “Afronta nasceu da necessidade de representação feminina e negra nas histórias contadas e ensinadas no Brasil. Da necessidade de um espaço-tempo em que as mulheres possam falar livremente do que quiserem sobre si e sobre a sociedade onde estão inseridas, nós do Afronta queremos unir forças para combater as opressões sofridas por todas nós por centenas de anos, desconstruir o ideal de beleza estabelecido, construir narrativas simbólicas que fortalecem nossa luta diária contra o machismo-racismo.”
Você pode conhecer, colaborar e amar esse projeto no site e no facebook.
P.S: Sou Camila, 23 anos, jornalista, branca, classe média e não faço ideia, por mais que eu tente, do que é ser mulher negra no Brasil. E você, conseguiu responder? Aliás, se você é negra e não se sente representada ou quer abrir mais um canal de discussão sobre o que você pensa, se cadastre para ser colaboradora do Nossa Causa.