Filantropia colaborativa: escuta, descentralização e impacto

Nota Social
3 de abril de 2025
  • Geral
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A filantropia não é escrita em pedra. Pelo contrário, se adapta, aprende com suas falhas, se reinventa e experimenta novos caminhos. Nos últimos anos, esse setor, historicamente marcado por relações verticais e decisões centralizadas, vem sendo tensionado por abordagens que propõem outro jeito de fazer: mais horizontal, coletivo e baseado na escuta ativa. É nesse contexto que surge a filantropia colaborativa.

“Os modelos tradicionais, em geral, partem de uma lógica de dentro para fora, um desejo de alguém sobre como o recurso vai chegar na ponta”, reflete Aletea Rufino, gerente de Investimento Social da Fundação André e Lucia Maggi (FALM), que enxerga nos modelos tradicionais uma lógica vertical, onde alguém define o recurso, a prioridade, a estratégia, e quem está na ponta precisa se adaptar. “Já na filantropia colaborativa, muda tudo. A decisão passa a ser mais horizontal, uma escuta ativa dos diferentes atores envolvidos. Isso gera mais pertencimento e soluções mais enraizadas na realidade.”

A lógica vertical não é o único padrão questionado pelas práticas da filantropia colaborativa. Muitas vezes, os recursos filantrópicos acabam concentrados em grandes organizações ou em determinadas regiões, dificultando o acesso a iniciativas menores ou a territórios periféricos. Descentralizar recursos é uma das contribuições desse modelo.

Para Aletea Rufino, quando várias organizações se unem e compartilham suas redes, olhares e recursos, a chance de alcançar iniciativas menores ou territórios periféricos aumenta muito. “A filantropia colaborativa permite sair da bolha e entender iniciativas menores, informais, periféricas, mas que estão fazendo um trabalho potente.”

Na FALM, por exemplo, em projetos colaborativos, a gerente conta que foi possível construir estratégias de apoio que vão além da transferência de recursos. “Levamos formação, articulação com políticas públicas e suporte de médio prazo. Isso só acontece porque outras organizações entram com diferentes expertises e recursos.” 

Trata-se de um formato mais lento de se implantar, já que, explica ela, é preciso construir confiança, alinhar visões e “deixar os egos de lado”, entendendo que todas as pessoas e investidores envolvidos têm o mesmo propósito. “Quando dá certo, o impacto é muito maior, tanto na eficiência dos recursos quanto na potência das soluções.”

Mas alerta: não é tão simples quanto dizer “vamos colaborar”. É preciso alinhamento e controle. 

“Cada investidor tem seus próprios objetivos, prazos, burocracias, formas de prestar contas e até visões diferentes do que é impacto. Conciliar tudo isso dá trabalho. Outro desafio é o controle. Tem quem ainda ache que colaborar é abrir mão de poder. E tem o tempo. Às vezes bate a ansiedade por resultado rápido”, lista.

Para superar isso, ela defende três pontos: clareza de propósito comum; disposição real para ouvir e ajustar; e ferramentas de governança claras que respeitem a diversidade entre os parceiros, mas que deem conta de organizar o processo. 

Nos próximos anos, algumas tendências importantes podem ganhar força. Entre elas, Aletea Rufino destaca a territorialização das decisões; modelos híbridos de apoio; foco em justiça social e climática; e uso de dados para tomada de decisão coletiva.

“Se a gente conseguir manter o foco em impacto, sem vaidade institucional, e colocar o ‘colaborativo’ como prática e não só discurso, a filantropia colaborativa tem tudo para transformar o jogo”, finaliza.

Fonte: GIFE

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