
Primeira edição do Black STEM selecionou cinco estudantes
O Instituto Repartir é uma organização da sociedade civil que tem como missão promover a inclusão social e econômica de estudantes de comunicação de baixa renda. Criada em 2021, a iniciativa busca reduzir as desigualdades sociais, com foco em grupos historicamente marginalizados, como mulheres negras e pessoas LGBT+. O instituto oferece aos jovens a oportunidade de estagiar em diversas áreas da comunicação como jornalismo, marketing e audiovisual, além de capacitações técnicas e humanas, para prepará-los para o mercado de trabalho.
Com esse novo modelo, o Instituto Repartir também se destaca pela sua tecnologia social, que conecta estudantes de comunicação a organizações sociais de menor porte. Essas instituições, muitas vezes com recursos limitados, recebem serviços gratuitos de comunicação, enquanto os estudantes ganham experiência prática, aplicando seus conhecimentos em projetos reais. A organização é uma ponte entre os jovens e o mercado de trabalho, e o nome “Repartir” carrega o sentido de compartilhar oportunidades, inspirado pela música “É tudo pra ontem”, de Emicida.
Em entrevista com Luciana Alvarez, cofundadora da organização, ela compartilhou detalhes sobre o dia a dia da instituição e seu compromisso com a pauta.
Nota Social: Como surgiu o Instituto Repartir?
Instituto Repartir: O Instituto Repartir nasceu da união de duas trajetórias: a minha e a do Emerson. Ambos somos jornalistas, mas com percursos distintos. Eu, com um background mais voltado para o mundo corporativo, trabalhando com comunicação, responsabilidade social e sustentabilidade em grandes fundações. O Emerson, por sua vez, seguiu a carreira de jornalista em grandes veículos de imprensa e como consultor de imagem e reputação.
Foi nesse contexto que percebemos uma realidade muito grave: a enorme dificuldade de estudantes, especialmente de pessoas negras e em situação de vulnerabilidade social, em concluir seus cursos universitários e se inserir no mercado de trabalho. E eu, por minha parte, sempre envolvida com organizações sociais e pequenas iniciativas, vi de perto a carência de apoio e capacitação em comunicação para esses projetos.
Com esse diagnóstico, em 2021, no auge da pandemia, decidimos criar o Instituto Repartir. O nosso foco é muito claro: fortalecer a inclusão de estudantes de comunicação, desde a universidade até o mercado de trabalho. Acreditamos que, com capacitação e oportunidades de emprego qualificado, esses estudantes podem não apenas concluir seus cursos, mas mudar sua realidade social para sempre.
A nossa missão é proporcionar uma rede de apoio e transformação, conectando estudantes a oportunidades e criando um ciclo virtuoso de inclusão, capacitação e empoderamento.
NS: Quais são os principais resultados alcançados pelo Instituto Repartir ao longo dos três anos de trabalho?
IR: Em três anos de atuação, já beneficiamos 56 jovens e, agora no início de 2025, com nossa nova capacitação e inclusão no banco de talentos, somamos mais 53 estudantes, o que totaliza 109 jovens impactados. São quase 20 mil horas de capacitação acumuladas, e estamos muito felizes com a diversidade de estados atendidos, 9 no total.
Porém, o que realmente nos motiva não são apenas os números, mas a transformação real que vemos nas histórias desses jovens. Uma das maiores conquistas do Instituto Repartir está na nossa abordagem de impacto reverso: os estudantes de comunicação, que recebem capacitação, também se tornam protagonistas ao desenvolver projetos para organizações sociais em situação de vulnerabilidade. Ou seja, o impacto que recebem, eles também repassam, criando um ciclo de transformação que pode se multiplicar em diversas áreas do conhecimento. Esse é o nosso diferencial, nossa tecnologia social, que já foi replicada em outras áreas, como o audiovisual, com iniciativas como o “Lente Social”.
Além disso, já atendemos 35 organizações sociais de 15 estados diferentes, entregando mais de 110 produtos de comunicação para essas entidades, tudo realizado de forma gratuita pelos nossos estudantes, que aplicam na prática tudo o que aprendem.
Nossos estagiários não apenas aprendem habilidades práticas e técnicas, mas também ampliam sua consciência social, entendendo profundamente os desafios que o Brasil enfrenta, especialmente as questões de desigualdade. Ao trabalhar diretamente com organizações sociais, eles têm a oportunidade de se envolver com causas que refletem as realidades das comunidades em que vivem.
NS: Como vocês medem o impacto social das suas ações?
IR: Medimos os impactos de duas formas: quantitativa e qualitativa.
No aspecto quantitativo, registramos todos os dados relacionados ao número de jovens atendidos, as horas de capacitação realizadas, e a abrangência geográfica, como já mencionei anteriormente. Esses números são importantes porque nos ajudam a acompanhar a evolução do nosso trabalho e a dimensionar os resultados.
Já no aspecto qualitativo, realizamos uma pesquisa com nossos estagiários após seis meses e novamente após um ano de participação no Instituto. Essa pesquisa avalia a transformação em várias áreas da vida dos estudantes, como o impacto na sua vida acadêmica, profissional, social e pessoal. Esses dados qualitativos são essenciais para entendermos a profundidade da transformação que estamos promovendo e como o Instituto Repartir contribui para o crescimento e desenvolvimento dos nossos estagiários de forma holística.
Além disso, o Instituto Repartir conta com duas frentes de trabalho principais. A primeira é a Jornada Repartir, onde contratamos os estudantes como estagiários no Instituto. Durante o estágio, que pode durar até um ano, os estudantes recebem uma bolsa de R$1.320,00, com a oportunidade de se desenvolverem profissionalmente, aplicando seus conhecimentos em projetos reais e impactantes. Mais detalhes sobre essa frente você pode conferir diretamente no nosso site.
A segunda frente, lançada em 2024 para ampliar o nosso alcance, são as Oficinas de Capacitação. Essas oficinas são programas mais intensivos, com foco em habilidades práticas, como narrativas, gestão de dados e inteligência artificial. Elas têm como objetivo capacitar ainda mais os estudantes e dar visibilidade a esses jovens talentos no nosso banco de comunicadores, também disponível no nosso site. Essa abordagem nos permite escalar nosso impacto e formar profissionais ainda mais preparados para o mercado de trabalho.
NS: Como o Instituto Repartir conecta seus jovens ao mercado de trabalho?
IR: Conectamos nossos participantes ao mercado de trabalho de duas formas principais. A primeira é por meio do nosso banco de comunicadores, que é aberto e gratuito. Esse banco oferece visibilidade aos nossos jovens talentos, facilitando o acesso às oportunidades que surgem no mercado. A segunda forma é através das reuniões de relacionamento que organizamos com o mercado. Isso inclui encontros com headhunters, agências de comunicação e empresas, para criar pontes e abrir portas para nossos estagiários e participantes.
Em 2025, vamos intensificar esse trabalho de conexão, com um foco especial nas regiões Norte, Nordeste e Rio de Janeiro. Estamos com um número crescente de jovens dessas localidades e queremos garantir que eles tenham acesso a mais oportunidades, ampliando ainda mais o alcance e a inclusão no mercado de comunicação.
NS: E o que torna o Banco Inclusivo de Comunicadores uma ferramenta inovadora?
IR: O banco de comunicadores do Instituto Repartir busca justamente dar visibilidade e facilitar o acesso das organizações a talentos que, muitas vezes, não são facilmente encontrados no mercado. Recebemos frequentemente feedbacks de RHs e headhunters dizendo que têm dificuldades em encontrar perfis que atendam às suas necessidades de diversidade, especialmente em relação a pessoas negras ou em situação de vulnerabilidade social. Eles mencionam que essas pessoas não costumam se candidatar às vagas abertas.
Ao criar esse banco, estamos justamente rompendo essa barreira e tornando mais fácil para as organizações encontrarem candidatos qualificados, com perfis diversos e com experiências transformadoras, que podem agregar muito aos times. E o resultado já é visível: algumas organizações que procuraram nosso banco de comunicadores já contrataram profissionais, o que é um sinal claro de que estamos cumprindo nosso papel de conectar esses jovens talentos com as oportunidades que, muitas vezes, não chegariam até eles.
NS: Quais são os principais desafios enfrentados pela organização?
IR: Até 2024, um dos maiores desafios que enfrentamos foi a escala de impacto, e conseguimos avançar bastante nesse sentido, ampliando o número de jovens atendidos. O próximo é garantir recursos financeiros para que possamos não apenas capacitar, mas também gerar renda para esses jovens.
Na nossa jornada, conseguimos gerar essa renda, pois além de capacitar, incluímos os jovens no mercado de trabalho com a bolsa de estágio. Porém, nas oficinas de capacitação, nem sempre conseguimos garantir uma remuneração direta para todos os participantes. Portanto, ampliar a geração de renda para todos é um desafio importante para nós. Queremos atrair investidores e patrocinadores que nos permitam ampliar a oferta de bolsas e gerar mais oportunidades de renda para os nossos jovens.
Outro desafio significativo para 2025 é o planejamento estratégico de longo prazo. Estamos focados em criar um plano de três anos, bem estruturado, que defina claramente onde queremos chegar, tanto do ponto de vista financeiro quanto de impacto social. Esse planejamento nos ajudará a seguir mais assertivamente na nossa missão e garantir que nosso impacto continue crescendo de maneira sustentável.
NS: O que vocês planejam para o futuro do instituto? Há novos projetos ou iniciativas em vista?
IR: Um dos nossos principais focos para 2025 é diversificar as fontes de captação de recursos e expandir para novos tipos de projetos, especialmente projetos especiais e incentivados. A ideia é escrever e implementar projetos por meio de leis de incentivo, principalmente nas áreas culturais, o que permitirá ampliar ainda mais nosso impacto.
Esses projetos serão essenciais para manter e fortalecer nossa metodologia de capacitação com os jovens. A partir desses projetos, poderemos oferecer mentoria e estágios, garantindo que os jovens, além de serem capacitados, tenham a oportunidade de produzir produtos culturais reais, aplicando tudo o que aprenderam em nosso programa.
A ideia é que, ao longo desses projetos incentivados, eles não apenas adquiram experiência prática, mas também se sintam parte de algo maior, criando produtos culturais que fazem sentido para suas trajetórias e para a transformação social que buscamos.
NS: Como as pessoas podem apoiar o Instituto Repartir?
IR:O Instituto Repartir recebe apoio de diversas fontes para viabilizar seu trabalho. Buscamos apoio institucional de organizações, que contribuem com valores anuais, e também doações de pessoas físicas e jurídicas. Para facilitar as doações, temos uma plataforma no nosso site, em parceria com a Abrace Uma Causa, onde as pessoas podem doar por PIX, cartão de crédito e outras formas de pagamento. Também prestamos serviços em comunicação para projetos sociais, cuja renda é revertida para manter a jornada social com os estudantes.
Para saber mais sobre a organização, doar ou se voluntariar, acesse Instituto Repartir.
(Amanda Maciel, do Nota Social)
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